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sexta-feira, 12 de abril de 2013

Conto: "O Enterro:Um caso de amor"

 
(Conto que integra o livro "A Sociedade sem Máscaras")

            Como de costume, Maciel adentra ao cemitério público na chuvosa tarde do mês de abril após encerrar seu expediente no escritório onde trabalha. Sim, o rapaz possuía em seu espírito a curiosidade mórbida de frequentar velórios e enterros mesmo sem conhecer o falecido ou, ao menos, algum parente daquele que partira para a eternidade.

            Tal mania o acompanhava desde sua adolescência e não era bem vista pelos parentes e amigos. Mas ele não se importava com a repulsa que isso causava nos seus e “passeava”, a esmo, pelo cemitério sempre que queria meditar e filosofar sobre a vida e a morte. Chegava mesmo a imaginar seu próprio velório, contabilizava quantas coroas de flores receberia e como seria seu epitáfio.

            Nessa tarde de abril ele percebeu que estava tendo um velório e correu à capela  a fim de saber de quem se tratava. Aproximando-se do féretro, viu que dentro estava um jovem pálido e sem vida que em breve seria sepultado.Esse era claro,cabelos castanhos curtos e dotado de uma certa beleza.

            Em volta do féretro, os familiares e amigos pranteavam a morte prematura do moço, vítima de atropelamento no trânsito frenético próprio das grandes cidades. Chamou-lhe a atenção uma jovem loira, de pele muito alva, cabelos lisos e longos abaixo dos ombros. Era dotada de uma beleza rara, olhos claros e lábios carnudos. Debruçava de forma débil sobre o morto, seu noivo, e o beijava-lhe no rosto compulsivamente que era preciso ser contida pelos presentes que comentavam entre si: -“Como Rosana o amava!”

            Rosana era seu nome. Estavam de casamento marcado para daqui a um mês, mas quis o destino separar-lhes! Ela usava uma calça jeans num tom azul-escuro muito justa que lhe desenhava e marcava o belo corpo mas, naquela comoção do velório, ninguém prestaria atenção numa mulher,ainda que bela e transpirando sensualidade. Ninguém, exceto Maciel!

            Ele ficou estático admirando o corpo desejoso daquela jovem, aquele rosto de querubim que, lavado em lágrimas, dava a ela uma beleza ainda maior, segundo Maciel. Logo, o rapaz passou para o outro lado da sala a fim de contemplar por outro ângulo aquela noiva que sofria pela ausência eterna do noivo falecido.

            Maciel aproximou-se ainda mais do caixão para tentar sentir o perfume que Rosana exalava, o qual conseguia vencer o cheiro dos crisântemos murchos das coroas de flores e do éter usado na manutenção do ambiente. Passou, então, a olhar fixamente para seus seios que se deixavam levemente à mostra cada vez que ela se abaixava para beijar o morto!

Logo, o caixão foi fechado e os parentes e amigos do falecido iam, um a um, retirando-se da capela para acompanhar o enterro, inclusive a desconsolada Rosana. Amparada pelos braços, ela seguia naquela marcha dolorosa e surda atrás do caixão de seu amado para sepultá-lo.

            Atrás dela seguia Maciel, excitado e apaixonado por aquela jovem. Ele a devorava e a despia com os olhos cobiçosos e lascivos. A cada passo de Rosana ele admirava mais e mais o balanço de seu quadril, o movimento de suas longas e grossas pernas.

            Por um momento, Maciel sentiu-se um canalha ao desejar tanto o corpo daquela alma sofrida e apaixonada. Bateu-lhe um remorso por tudo aquilo e ele abaixou os olhos para seus próprios pés mas, logo, o êxtase,o delírio e a luxúria do pecado invadiram novamente seu ser e ele voltou a cobiçá-la mais e mais... -“Para o inferno o remorso!

            Chegou a imaginar como teria sido a intimidade de Rosana com aquele noivo que agora tinha seu corpo encerrado naquele caixão, sem vida, prestes a ser sepultado. No seu íntimo, teve um sentimento de alegria ao imaginar que aquela jovem não seria mais tocada pelas mãos do amado que, agora,estavam duras e cruzadas sobre o peito segurando um crucifixo de metal!

            Logo, Maciel passou a sentir uma inveja mortal daquele homem “encaixotado” e frio que estava a alguns metros na sua frente caminhando para a última morada. Calculava o quanto ele, vivo, já desfrutara do corpo de Rosana e das delícias proporcionadas pelos beijos daqueles lábios carnudos cobertos por batom.

            Vibrou, internamente, quando o coveiro depositou sobre o ataúde de “seu rival” a última pá de terra fria,úmida e pesada! E, ao escutar Rosana jurar ao pé daquela sepultura que ela jamais teria outro homem na sua vida,balbuciou para si mesmo: - “Ele merece os sete palmos de terra.Pois que fique aí para sempre”!

            A garoa apertava e a multidão deixava o cemitério, pois nada mais ali havia para ser feito. “Consummatum est!”

            Porém, Maciel permanecia imóvel ao lado da sepultura avistando Rosana sair de lá “balançando” aquele esbelto corpo que ele tanto desejava naquele momento.

            Alguns meses se passaram e foi erguido um grande mausoléu revestido de mármore em estilo barroco pela família do finado que era muito abastada e não media esforços para homenagear a memória daquele moço. Aquilo acabou sendo uma espécie de capela, um santuário onde os parentes entravam para acender velas ou mesmo para orar pela alma daquele desgraçado em dias santos.

            E foi justamente lá, naquele memorial, que, no fim da tarde de um certo dia, Maciel e Rosana se entregaram à volúpia daquela tórrida e imunda paixão iniciada no enterro de seu noivo.        As juras de amor proferidas por Rosana ao finado no dia de seu enterro, ao pé de sua sepultura, são ditas aos ouvidos de outro entre gemidos de prazer e ardor.

Sim, parece incrível, mas, a última morada daquele ser tão amado outrora pela noiva quando vivo transformou-se num leito lascivo e pecaminoso de Maciel e Rosana sob a anuência tácita do noivo sepultado!