Hoje acordei no horário de sempre, no quarto de sempre,
mas algo
estranho aconteceu!
Estendi
os braços como de costume procurando os teus, mas não os encontrei...
Aspirei
o perfume de teu pescoço, mas nada senti!
Inclinei
os lábios na direção de teus seios, porém, não consegui sorvê-los!
Na
volúpia intensa extremada, rocei meu ventre ao teu; e nada aconteceu!
Procurei
acariciar-te com minhas pernas as coxas, o joelho, a canela... em vão...
Lembrei-me
de procurar teus longos cabelos que escorriam outrora por teus ombros,
mas,
nenhum sinal de tuas madeixas encontrei!
Num
ato de intenso desespero, então, saltei da cama, a luz do escuro cômodo acendi
e
louco e cego indaguei: - “Cadê você, amor?”
A
cama vazia e fria olhava para mim atônita como que dizendo:
- “O que procuras, poeta de versos retorcidos?
Tua amada já não mais se encontra aqui!
Resta-te
eu, um móvel gelado de madeira bruta, despida de lençóis de cetim,
guarnecida
por um colchão duro e roído por traça!
Eu,
então, alucinado e ébrio, lembrei-me de nossas brigas,
de
nosso egoísmo, de nossa vaidade...
Por
fim, custou-me recordar que vivemos apenas e tão somente uma quimera, uma
ilusão,
um sonho alimentado por essa maldita cama em que madrugadas
adentro nos amávamos!
São
apenas lembranças que em nada refletem nossos orgasmos de outrora...
lembranças que não me contentam e nem saciam
meus desejos!
Trocaria
todos esses “recuerdos” por um último e intenso beijo em teus lábios!
Ainda
que os mesmos cadavéricos estivessem...
Ainda
que o colchão fosse de madeira...
Ainda
que teu corpo nu e branco gelado estivesse...
Ainda
que o sangue em tuas veias não mais pulsasse...
Ainda que o sepulcro tua última morada fosse, pois
escreveria nele o seguinte epitáfio:
”
O fim da ilusão chegou a mim, mas, nem a morte, traiçoeira e vil, porá
fim
ao que um dia, meu eterno amor, eu contigo vivi!”
Adeus quimera da minha jovialidade!
Adeus leviana e tórrida paixão que me fez soçobrar
no mar da incoerência!
Tuas marcas carregarei nesse velho coração que
acelerado bate,
sofre e suspira por tua ingratidão!