Marcadores

"A maior riqueza da minha vida" (1) "Conheça o autor" (1) "Curiosidades sobre o poeta" (1) "É...acho que estou ficando velho..." (1) "Jornal da Cidade" (1) "Lançamento de livro em Santo Ângelo/RS" (1) "Livros à venda" (1) "Participações na Tv" (1) "Poesias do livro Conflito Interior" (1) "Poeta por si próprio" (1) A Meretriz (1) A Mulher do Próximo (1) Agradecimento ao escritor Israel Lopes (1) As bocas que não se beijam (1) Conto: "A Felicidade Conjugal" (1) Conto: "A Meretriz" (1) Conto: "O enterro:um caso de amor" (1) Crônica: "A breve história do Sr.Enganoso" (1) crônica: "A camisa vermelha de Hugo Chávez" (1) Crônica: "A gramática do amor" (1) Crônica: "Então...É Natal" (1) Crônica: "Filosofia de botequim" (1) Crônica: "Imperceptivelmente" (1) Crônica: "O Tempo e o Vento" (1) Crônica:"Homem:sexo frágil e inseguro?" (1) Crônica:"Van Gogh eu e as grossas balizas das estudantes" (1) Deus não há! (1) Livro: "A vida é bela-Para quem?" (1) Livro: "Existe vida após o casamento?" (1) Livros à Venda (1) Materias sobre o trabalho literário do autor" (1) Na Antessala do Céu (1) Novo Livro Publicado (1) Novo Livro: "A sociedade sem máscaras" (1) O fim da ilusão-Adeus Quimera! (1) Poesia: "A Loucura da Paixão" (1) Poesia: "A razão de um poeta" (1) Poesia: "A uma certa gauchinha" (1) Poesia: "Foste..." (1) Poesia: "Insano Desejo" (1) Poesia: "Saudade" (1) Poesia: "Soneto da Ausência" (1) Poesia: "Tua Ausência" (1) Poesia: A Razão de um Poeta" (1) Poesia:"insano Desejo" (1) Questionamento à mote (1) Semana Farroupilha em Passo Fundo/RS (1) Sobre João Ribeiro Neto (1)

sábado, 19 de julho de 2014

Conto: "A Felicidade Conjugal"


O dia estava próprio para uma ida à fazenda, um final de semana prolongado. Fazia calor e, além do mais, o casal vivia em perfeita harmonia, quase uma segunda lua de mel.
-“Acorda, amor! Já amanheceu”! – sussurrava delicadamente Eugênie no ouvido de seu marido, o Andrade.
Ele relutava para despertar, tinha sido dura a rotina da semana na empresa em que ocupava a presidência.
-“Mais cinco minutos, amor”! – era a reposta do marido.
Eugênie era uma mulher de uns 30 anos, porém, aparentava uns 23 anos, no máximo. De família nobre, origem francesa, tinha modos dignos de uma rainha, por assim dizer. Amava, sobretudo, o esposo a quem ele não cansava de afirmar: - “Esposa dedicada, irrepreensível, exemplar”...
Andrade, ou como era tratado quase sempre por todos, Dr. Andrade, era um homem de sucesso, um empresário que viajava o mundo inteiro realizando grandes negócios. Amava a esposa mais que tudo na vida, tinha uma veneração absurda por Eugênie, a quem ele sempre se referia como - “Minha mademoiselle”! - aludindo à origem francesa da mulher.
Não media esforços para realizar os desejos da amada. Certa vez, importou da Europa um belíssimo Stradivarius, o violino mais desejado do mundo. Gastou uma verdadeira fortuna para arrebatá-lo de um colecionador só para apreciar sua doce Eugênie extrair do nobre instrumento os clássicos de Vivaldi!
De outra feita, a esposa manifestara-lhe o desejo de voltar a praticar a equitação, pois desde criança ela sempre praticou esse esporte, montando com destreza e elegância. E como não poderia ser qualquer cavalo para a perfeita prática do esporte, queria um legítimo puro sangue da raça Lusitana, o cavalo dos nobres portugueses.
Foi preciso fazer esse pedido apenas uma vez ao marido e, logo, Andrade já importava de Portugal o portento cavalo branco para a plena satisfação de Eugênie.
Ao receber o animal, ela se lançou nos braços do amado, beijando-o frenética e alucinadamente. Era o êxtase completo que culminou numa noite intensa e voluptuosa de amor e paixão!
Marido e mulher se amavam no mais profundo de suas almas. Tinham os dois uma vida regrada, eram fiéis um ao outro, uma completa devoção de ambas as partes, um casamento perfeito!
E Eugênie ia criando novos desejos de aquisição, sempre caros e de difícil realização, mas, Andrade possuía recursos mais que suficientes para realizá-los de um jeito ou de outro. Amava aquela mulher de alma infantil, pura, inocente e totalmente entregue a ele!
Não tinha filhos o casal, Andrade amava a esposa com tanta devoção que sentia medo de perdê-la num parto em que algo viesse a dar errado, alguma fatalidade!
-“São já 10 horas da manhã, meu bem”! – insistia carinhosamente a esposa em acordar o marido para irem juntos à fazenda do casal.
Ela estava aflita porque o funcionário da fazenda havia telefonado para avisar que o cavalo lusitano de Eugênie, aquele mesmo importado por Andrade, estava doente.
O funcionário já tinha aplicado uma ou duas doses de Banamine, um medicamento analgésico que, quando injetado na veia do animal, faz um efeito instantâneo aliviando as dores. Mas esse era somente um paliativo, era necessário fazer um exame mais elaborado no cavalo por um veterinário e se fazia necessária a presença dos proprietários do bicho.
-“Não estou me sentindo bem, amor. Peça para o motorista te levar à fazenda e cuide de tudo por lá”! – disse Andrade, que estava realmente adoecido.
A esposa, dedicada como sempre, quis desistir da viagem para cuidar do marido, mas, ele, que a amava mais que a si próprio, não quis que ela deixasse de ir à fazenda cuidar pessoalmente do seu cavalo de estimação.
Então, Eugênie, meio contrariada, atendeu ao pedido do marido e seguiu a estrada com o motorista da família rumo ao interior.
Chegou lá duas horas depois, cumprimentou os funcionários, tomou um copo de água de poço, oferecido por Iracema, esposa do caseiro, e foi à estrebaria ver seu animal.
-“Ele está melhor, dona Eugênie”! - disse o peão responsável pelos animais da fazenda. Seu nome era Antônio, tratava-se de um homem simples do campo, pele queimada pelo árduo sol da lida; era muito dedicado ao serviço. 
De fato o garanhão tinha se restabelecido prontamente com mais uma dose aplicada de Banamine, tanto que o animal estava já solto no piquete cobrindo umas duas outras éguas da propriedade destinadas à reprodução.
Eugênie, então, aliviada por ver seu animal em perfeito estado de saúde cobrindo aquelas éguas, sentiu algo diferente em seu corpo e ficou tonta. Sua vista escureceu de repente e suas mãos ficaram geladas.
-“A senhora está passando mal, dona Eugênie”? – perguntava, assustado, o peão.
E, inesperadamente, aquela esposa altiva, elegante, perfumada e tão dedicada ao marido se atira nos braços de Antônio, aquele pobre diabo semianalfabeto e que cheirava a esterco de cavalo.  Eugênie, enlouquecida, começa a beijá-lo, a despi-lo e a sugá-lo com fúria jamais vista antes!
O peão fica sem entender nada, com medo, sempre tivera respeito pelos patrões, mas, não
resistiu à tentação daquela mulher que mais parecia uma princesa e a devorou impiedosamente sobre a baia forrada de serragem cheirando à cavalo.
E assim ficaram como dois bichos no cio por mais de uma hora, engalfinhados, trocando saliva, suores e orgasmos. O perfume francês ficou impregnado na pele queimada daquele matuto grosseiro; também o cheiro forte daquele corpo rude passou para o dela.
Despedem-se, prometendo que outra vez voltariam a se amar dessa forma lasciva, abjeta e, ao mesmo tempo, excitante. Juraram segredo absoluto e Eugênie se despediu de todos na fazenda com a maior dissimulação a ponto de ninguém perceber o ocorrido.
À noite, a mademoiselle regressou a seu lar como se nada, absolutamente nada, tivesse acontecido. Seu corpo ainda estava em ebulição, mas, ela soube manter a compostura diante do marido. – “Foi tudo bem lá na fazenda, meu amor”? – pergunta Andrade, carinhosamente.
E ela, mais afetuosa do que nunca, beija-lhe a testa e responde: -“Está tudo resolvido lá, querido. Não se preocupe”!
Eugênie caminha para o chuveiro, para tomar um banho e retirar, finalmente, aquele excitante odor que superava a fragrância de seu perfume francês. Ainda por um minuto sente no seu corpo o cheiro de bicho do suor daquele peão ignorante e bruto. 
Ao se lembrar de tudo o que fizera naquela baia rústica e suja onde os bichos foram as únicas testemunhas silentes, tem um último orgasmo solitário ao acariciar seu corpo e murmura para si mesma - “Antônio..... Antônio...”
Estava dolorida, quase ferida, por ter sido possuída dessa forma tão selvagem pelo, agora mais dedicado ainda, funcionário. Eugênie tinha uma sensação de que já não era mais a mulher culta, educada e nobre de antes. Aliás, não se sentia nem mais como um ser humano. Era, agora, simplesmente, uma fêmea no cio como aquelas éguas que tinham sido cobertas pelo seu cavalo de estimação!Sentia-se mais feliz que nunca!
Enquanto isso, no quarto, Andrade repete satisfeito e orgulhoso para si mesmo o provérbio bíblico que tinha em mente desde seu casamento e que, tão bem, resume sua esposa amada: -“Mulher virtuosa quem a achará? O seu valor muito excede ao de rubis”. Eis a felicidade conjugal!