Preparei meu epitáfio em vida! |
Quem és tu, maldita dama de negro, que sorrateira e
astuta, surge sem avisar e sem perguntar se tua presença é desejada nessa casa
ou nessa família?
Acaso sabes, oh morte, quantas viúvas e órfãos pusilânimes
já deixaste nessa terra por impores tua vontade soberana e cruel?
Quantos amores já não rompeste num lampejo? Quantas
amizades não quebraste? Quantos sobreviventes que hoje são como verdadeiros
zumbis por não suportarem a dor dilacerante que causaste?
Que “deus” egoísta e medíocre é esse que te
governa, oh morte, extinguindo o sopro de vida a seu bel-prazer, como criança
mimada que desconhece o desejo alheio para satisfazer somente a si?
Acaso sentes, oh morte, orgasmos múltiplos e
intensos ao cumprir seu papel de ver os corpos, frios e rígidos, descerem
inertes às sepulturas rasas? É esse o apogeu de tua volúpia e de tua luxúria?
E o que dizer, oh morte, dos que, resilientes, ainda
louvam, absorvidos pelo proselitismo religioso, aquele que te governa? Se é que
alguém te governa...
Força maldita tu tens, oh morte, mas ainda consigo
ver em ti uma única virtude! Sabes qual é essa qualidade ímpar que os demais
seres não possuem? É que não fazes diferença de classes sociais, de idades e
nem de espécie animal ou vegetal, pois a tudo e a todos faz o que lhe cabe: matar,matar
e tão somente matar!
Mas queres, oh morte, saber o que penso de ti na
verdade? Pois te digo que és sórdida, sádica e constituída por um poder
hediondo ao qual jamais me renderei!
Minha vingança será partir em teus braços um dia
com o riso sardônico nos lábios sabendo que fui vencido por ti,sim, porém sem
louvar “aquele” que te governa e do qual és um instrumento vil – nada mais que
isso!