Uma das coisas mais difíceis para o ser humano é
reconhecer que o tempo passa inexoravelmente tanto para os tolos quanto para os sábios. A diferença é que os tolos, na sua estultícia, ignoram e os sábios filosofam sobre isso!
Outro dia, li um aforismo do filósofo Sócrates que
dizia o seguinte: “Meu conselho é que se case. Se achar uma boa esposa será feliz, se não se tornará um filósofo!”
E agora está explicada minha inclinação para a filosofia!
Mas voltando a essa crônica, reconheço que estou
envelhecendo quando comparo minha adolescência com ageração de hoje. Explico; naquele tempo (coisa do final da década de 80 e início da década de 90) os garotos gostavam de garotas, hoje os garotos (claro que tem exceção) gostam de violência, de drogas e de se vestirem como garotas, são“Emos”!
Falando nisso, demorei meses e meses tentando
descobrir a qual “tribo” pertenciam aqueles rapazinhos de franja escorrida na testa, calça colorida justa e tênis multicolor. Com todo respeito aos “emos” e “emas”(sempre achei que ema era uma ave de pernas compridas) acho estranha essa moda.
É certo que na minha adolescência também tive lá
minhas “esquisitices”. Quem me conheceu naquela época sabe que cheguei a ser gótico. Só usava roupas pretas, correntes e fivelas chamativas e lia poesias de Álvares de Azevedo no cemitério! É difícil alguém conseguir me imaginar daquela forma ao me ver usando terno e gravatas exóticas com estampas personalizadas!
Como diz o ditado: “quem tem telhado de vidro nãoatira pedra no do vizinho” por isso não estou criticando os “emos”, se bem que no “meu tempo” seriam chamados de “Homo...” e não de “Emo”...deixa para lá esse detalhe...
Já que falei da minha adolescência, tenho que falar
agora sobre o período em que cursei meu minha primeira faculdade (1995 a 1998) para continuar abordando o tema dessa crônica: “Estou ficando velho...”
Cursei jornalismo numa grande e famosa universidade, porém só fui usar laboratório de informática no último ano do curso!
Parece mentira, mas usávamos a saudosa e velha
máquina de escrever para preencher as laudas das matérias jornalísticas, tenho fotos que confirmam isso!
Outro dia meu computador deu o chamado “pau” e
levei-o a um técnico de informática para solucionar o problema. Enquanto o rapaz diagnosticava o “PC” (no meu tempo PC era abreviação de Paulo César Farias, o tesoureiro
do Collor), senti saudade da velha Olivetti do meu pai. E quando surgiu a máquina de escrever elétrica que podia apagar as letras impressas no papel então? Eu achava o máximo! Para mim era a maior invenção da humanidade depois do fogo e da roda! Como nos contentávamos com pouco antigamente, não?
No segundo ano de jornalismo arrumei um estágio
num jornal de bairro e pela primeira vez na vida eu estava diante e a sós com um computador; Era “minha primeira vez”; Uau! - como dizia o saudoso Paulo Francis!
A cena foi hilária: eu olhava para o monitor do PC
(como já disse não era o Farias) e ele “olhava” para mim como se estivesse me desafiando para um duelo.
Coloquei, em seguida, a mão no mouse que, para
mim, era apenas o sobrenome do Mickey, nada mais do que isso! Eu ficava tentando colocar a setinha comandada pelo mouse no programa que eu queria abrir, mas a p......da setinha não me obedecia!
Hoje qualquer criança de três anos sabe ligar e desligar um computador, haja vista minha
sobrinha Catarina, uma craque em PC !
Ainda falando do “meu tempo”, olhar a capa de uma revista Playboy na banca de jornal já nos fazia felizes. Hoje em dia, a garotada faz sexo virtual pela internet e do virtual partem para o real. São “crianças gerando crianças”.
Eu me considero uma pessoa “antenada”, adjetivo do “meu tempo”, hoje o adjetivo da moda é o “Focado”! Aliás, detesto o verbo “focar”, ele me cheira ao palavrório deVanderlei Luxemburgo.
Mas como eu estava dizendo, sou uma pessoa
atualizada, administro meu site na internet, não consigo sobreviver sem e-mails, faço compras pela internet e tenho até um perfil no Orkut e em outros blogs e portais de relacionamentos. Sempre tive muita resistência em utilizar esses sites de relacionamentos, fui convencido por uma amiga a criar uma conta no Orkut para facilitar a comunicação com os amigos. Para ser sincero, até hoje não me sinto à vontade nessas redes de relacionamentos.
Sinceramente, como escritor eu me acho meio ridículo quando leio o “internetês” utilizado por alguns amigosvirtuais:
-“ E aí,BlZ?”(demorei quase um ano para descobrir que “Blz” significa beleza!
Uma vez achei que meu computador estava sendo
atacado por vírus quando cliquei num recado virtual onde se podia ler o seguinte: “KKKKKKKKKKKK”... Mais tarde, um”
pirralho” de sete anos me explicou que o “KKKKKKKKK” era a representação gráfica de uma sonora e estridente gargalhada!
E o Youtube então? Tem vídeos de brigas de casal, furos de reportagens, debates políticos, filmes antigos etc...etc...etc...Eu adoro acessar o Youtube, mas levei um tempo para conhecer esse site, antes ouvia as pessoas dizerem Youtube e eu ficava horas a fio tentando descobrir o que significava isso!
É, realmente estou ficando velho! Hoje você manda um e-mail para uma pessoa em qualquer lugar no mundo e ela recebe instantaneamente a mensagem. Antigamente,escrevíamos uma carta naquele bloco específico para cartas,colocávamos no Correio e dias depois o destinatário recebia
as notícias!
Hoje se pode ler um livro inteiro pela internet, mas eu ainda prefiro ir à Biblioteca, escolher um bom título na estante batendo levemente em sua capa para retirar a poeira acumulada... depois dou um espirro gostoso por causa do pó e inicio a leitura como faço agora! Estou lendo uma poesia de Drummond que sintetiza bem o tema dessa crônica que é o tempo:
"_Chega um tempo em que não se diz: meu Deus
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram
E as mãos tecem o rude trabalho.E o coração está seco."
* crônica que integra o livro "Existe Vida após o casamento"