Faz tempo que não escrevo
artigos e críticas literárias, pois os leitores apreciam mais as crônicas que
tratam de temas engraçados e não tiro o direito das pessoas preferirem esse
tipo de leitura.
Hoje acordei cedo como de
costume e comecei a me lembrar muito do meu pai. Recordei de quando eu o
acompanhava nas reuniões políticas do partido, o PDT, com o também falecido
Leonel Brizola.
Uma
vez, na convenção do partido nas eleições presidenciais de 1989, tomamos um
chimarrão com o Brizola na mesma cuia e o Governador, como era conhecido, pôs a
mão na minha cabeça e disse: -“Esse guri vai longe!”
Não sei se fui tão longe
assim, mas o fato é que consegui publicar meu terceiro livro num país onde a
minoria aprecia a literatura!
Voltando
ao meu pai, lembrei que certa vez ele me presenteou com uma coleção de livros e
um DVD com a obra de Érico Veríssimo: “O tempo e o vento.”
Para quem nunca teve acesso a essa obra eu recomendo a leitura, pois é
uma viagem à História do Rio Grande do Sul nas intermináveis lutas do povo gaucho
contra os castelhanos em defesa das fronteiras sulistas do Brasil.
Érico Veríssimo teve a preocupação
de narrar fatos históricos como a Guerra dos Farrapos, retratar as duas
grandes revoluções do Rio Grande com riqueza de detalhes, como um retrato fiel
da História, mas salpicou “O tempo e o vento” com romances e personagens
que às vezes o leitor até chega a acreditar que são reais devido ao seu
engajamento com a trama e o cenário.
Só para lembrarmos um pouco de
alguns personagens cito Ana Terra, a matriarca da família Terra, Maneco
Terra, Bibiana e claro, ele, o revolucionário e intrigante Capitão
Rodrigo Cambará, amigo do cunhado Juvenal Terra.
O capitão chegou à cidadezinha de
Santa Fé em seu cavalo zaino com um violão nas costas e uma espada apresilhada
à cintura num dia de finados bradando: “Buenas e me espalho! Nos pequenos
dou de prancha e nos grandes dou de talho”!
Ele era dado ao vinho e às paixões, seu lema era: “Ou oito ou
oitenta!” Vivia intensamente lutando nas revoluções e guerras; amava correr
riscos e viver perigosamente.
Apaixonou-se por Bibiana Terra
que era a paixão de Bento Amaral , filho do poderoso coronel que fundou
o povoado de Santa Fé.
Bento Amaral desafiou Rodrigo
Cambará para um duelo de espadas; quem vencesse ficaria com Bibiana.
Na luta voraz, Capitão Rodrigo
marcou o rosto de Bento Amaral com a inicial de seu nome, mas antes de terminar o “R”
levou um tiro traiçoeiro de Bento Amaral e quase morreu, mas depois
recuperou-se vindo a se casar com Bibiana Terra.
O Capitão passou a vida
inteira obcecado em terminar a “perninha do R” no rosto de Bento
Amaral até ser morto na Guerra dos Farrapos.
Mas o que tem a ver o Capitão
Rodrigo comigo e com a saudade do meu falecido pai?
É que quando ele ia ao nosso sítio e
me via pilchado (trajado com vestimentas gauchas) em cima de um bonito
cavalo puro-sangue dizia sempre com orgulho: -“Esse é o meu Cambará”!
E eu riscava as esporas no pingo (assim o gaúcho chama o
cavalo) da virilha ao coração e saía galopando pago afora.
Quantas lembranças boas que embargam
a voz e embaçam os olhos. Mas duas coisas estão sempre vivas no peito: “O
amor e a saudade” de um tempo que jamais voltará.
Daí o nome da crônica tirado da obra
de Veríssimo: “O tempo e o vento!” Preciso terminar a crônica, pois as
lágrimas já escorrem pelo papel, mas não sem antes citar as palavras de Érico
Veríssimo encerrando “O tempo e o vento”:
“Uma geração vai, e outra geração vem. Porém a terra
para sempre permanece. E nasce o sol, e põe-se o sol, e volta ao seu lugar
donde nasceu. O vento vai para o sul, e faz o seu giro para o norte;
continuamente vai girando o vento, e volta fazendo seus circuitos”
( Ec I;4-6)
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