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domingo, 6 de janeiro de 2013

Crônica:“A Breve História do Senhor Enganoso”

          Senhor Enganoso, o personagem central dessa crônica, sempre foi sisudo e metido a rico. Na sua infância era pobre e vivia numa cidadezinha muito miserável e feia num dos lugares mais ermos do país.

            Naquela época, o angu era seu alimento preferido. Com os irrisórios lucros de seus pais, a folha de bananeira ocupava lugar de destaque no banheiro e o caminho à escola era feito com velhas galochas de borracha por léguas e léguas intermináveis... Daí o fato do Sr. Enganoso ter abandonado os estudos ainda em tenra idade e ter passado a vida toda na ignorância mais completa e absoluta que um ser humano pode viver.

            Mas o que faltava financeiramente ao Sr. Enganoso sobrava-lhe de “papo”. Contar vantagens aos colegas e conhecidos era com ele mesmo! Mentia, mentia e mentia... Todos sabiam que mentia, porém, fingiam acreditar!

            E foi numa dessas mentiras que o Sr. Enganoso conquistou sua esposa, a Dona Enganada. Essa, também ignorante e humilde, mas fazia questão de deixar claro qual a sua origem, não tinha vergonha!

            O casal viveu sempre de expedientes e de pequenos “bicos”. Morava tempos aqui, tempos acolá... Com o passar dos anos vieram os filhos, muitos filhos...

            O Sr. Enganoso, então, decidiu mudar de Estado com a “cara e a coragem”. Foi assim que o pobre casal e seus filhos chegaram a São Paulo. Ele sempre bebeu, fumou, traiu a mulher e judiou de seus filhos, mas a mulher manteve-se fiel a ele todo o tempo!

            Nosso personagem nas andanças da vida aprendeu um rude ofício e melhorou um pouco de vida, ou seja, saiu do “nada” e chegou ao “quase nada”. Lembra que eu falei no começo da crônica sobre o “papo” e a mania de grandeza do Sr. Enganoso? Pois bem, isso piorou com o passar dos anos!

            Querendo sair do “quase nada” para o “alguma coisa”, ele resolveu aplicar “golpes” nas pessoas de bem. Contratava e não pagava, furtava materiais dos patrões e mentia; mentia compulsivamente a ponto de todos os seus muitos filhos adotarem suas mentiras e seus golpes. Mas para disfarçar, freqüentava uma Igreja e apregoava uma fé digna de “levá-lo ao céu”, como gostava de dizer!

            Suas filhas eram “mães solteiras” que davam os chamados “golpes da barriga”. Já os filhos se apropriavam de materiais dos patrões “com classe” e lábia, na base do engano sutil.

            O Sr. Enganoso devia a mercados de bairro, agiotas, açougues, farmácias, quitandas e depósitos de materiais de construção. Chegou determinado dia que ninguém vendia mais nada fiado a ele, pois todos já conheciam sua reputação de “mau pagador”.

            Mas ele só andava de carro preto e ostentava uma bonita casa na cidade onde morava com sua família. Fazia de conta que não devia nada a ninguém e continuava a se “esconder” atrás da Igreja  que freqüentava.

            Um dia, porém, Sr. Enganoso adoeceu gravemente, enfermidade de morte, pois já era muito idoso!

            Sua mulher, Dona Enganada, e seus filhos ficaram ao seu lado solidários, mas não possuíam recursos para custear o tratamento do Sr. Enganoso.

            O INSS havia cancelado o benefício dele, pois descobriu-se que o mesmo era produto de estelionato. Dinheiro os filhos igualmente não tinham, pois não trabalhavam, viviam de pequenos “bicos” e golpes! Às filhas restava cuidar das crianças que haviam gerado nesses anos, pois marido algum aguentou a futilidade e as mentiras das moças!

            Tentaram comprar remédios fiado nas farmácias, mas ninguém quis vender nada para a família do Sr. Enganoso. Até que um dia ele amanheceu morto e seu corpo já cheirava mal por conta da enfermidade.

            Seus familiares procuraram uma funerária da cidade para fazer o enterro “fiado”, mas nem a morte foi suficiente para apagar a má reputação do defunto afinal, se vivo ele já não pagava, depois de morto menos ainda!

            Coube recorrer ao prefeito, o qual prontamente enterrou o morto por conta da prefeitura. E o enterro foi vazio, pois ninguém na cidade gostava do “finado caloteiro”, como ficou conhecido.

            Os coveiros, contrariados, depositaram o ataúde no fundo de uma cova rasa, pois até para eles o Sr. Enganoso morreu devendo dinheiro.

            O único que teve um ato pequeno de misericórdia com o “finado caloteiro”, além do prefeito, foi o administrador do cemitério que, mesmo tendo levado muitos calotes do morto, preocupou-se em escrever na sepultura esses ínfimos versos de Drummond como um questionamento tácito e derradeiro:

 

 

“E agora, José?

A festa acabou,

A luz apagou,

O povo sumiu,

A noite esfriou,

E agora, José?

E agora, você?

Você que é sem nome,

Que zomba dos outros,

Você que faz versos,

Que ama, protesta?

E agora, José?”

 

            Para encerrar esse breve relato sobre a vida do Sr. Enganoso, convido meus leitores a refletirem sobre o seguinte aforismo de Napoleão Bonaparte:

“Os homens não mudam. Os especuladores desonestos sempre agirão como agiram no passado!”

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