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quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

A Meretriz


"A Meretriz"


Seus longos e escorridos cabelos ruivos ainda nem estavam totalmente secos, após o banho, esse por sinal digno de uma dama da realeza britânica, quando Tainá já se despedia do marido para ir cumprir sua dura rotina de trabalho.
- "Já vou, querido"! – despedia-se carinhosamente do esposo, roçando seus lábios encarnados nos dele.



Mário sairia mais tarde para trabalhar, seu horário era mais flexível que o de Tainá.

Não era, ele, ciumento, mas, não podia negar que se sentia um pouco incomodado, digamos assim, quando via Tainá saindo de casa muito bem vestida, perfumada, exalando a essência da sensualidade que toda mulher linda tem.
De fato, Tainá chamava a atenção por onde passava, não só por suas roupas provocantes e decotadas e nem pela minúscula lingerie que lhe marca a calça e a blusa. O que mais atraía olhares era o fantástico contraste entre seus cabelos naturalmente ruivos (que quase lembravam o carmesim) e sua pele branca como a neve que
recobre sutilmente a Europa nórdica no inverno; uma pele com a textura delicada daquela flor que nasce espontaneamente no jardim, conhecida por onze horas, pelo fato dela se abrir como num passe de mágica ao sentir o raio solar quente a marcar a quase metade do dia! E aqueles olhos azuis que lembravam pedras preciosas de topázio? Tainá era linda no conjunto, como uma dama pintada em tela por Renoir!

Mário não sabia exatamente onde a esposa trabalhava, apenas sabia que ela era vendedora em uma joalheria no centro da cidade. E não havia motivos para duvidar de Tainá, visto que seu salário no final do mês era religiosamente entregue ao esposo para, junto com o dele, serem pagas as despesas da casa. O que sobrava do montante era depositado numa poupança que ambos tinham em conjunto.

O marido estava acostumado com o jeito de se vestir da esposa, com o perfume provocante dela, enfim, mas nesse dia ele sentiu uma dose de ciúme que não sentira antes.
Preferiu não comentar com ela e nem com ninguém no seu trabalho sobre esse ciúme que, como um veneno letal, consumia suas entranhas provocando uma terrível dor e sensação de pavor.
No serviço, percebeu que alguns de seus colegas da repartição faziam certos comentários em voz baixa sempre quando Mário se afastava deles e aquilo o intrigou em demasia.
Na hora do almoço, Mário saiu com Antunes, seu grande amigo e colega de trabalho, e comentou com ele sobre aquele sentimento de ciúme que lhe brotou no coração, de forma incisiva, naquela manhã ao se despedir da mulher.
Por um instante, Mário sentiu-se envergonhado por começar a desconfiar da fidelidade de Tainá. Afinal, não havia motivo para isso, admitia para si e para o amigo. Ou haveria?
Antunes coça a cabeça meio sem jeito, acende um cigarro já na calçada, quando saíram do restaurante, e diz sutilmente.
- "Olha Mário, você sabe que sou seu amigo, não sabe"?
- "Claro que sei disso"; responde o outro.

- "Pois preciso te contar sobre os comentários que tenho ouvido sobre sua esposa, Tainá"!
No mesmo instante, Mário já percebeu que ouviria aquilo que ele jamais desconfiara nesses anos todos de casamento!Seu coração acelerou, suas mãos estremeceram e ele, como uma criança assustada, com o olhar parvo, pediu ao amigo:
- "Conte tudo que você sabe sobre minha mulher"!
O amigo, antes de dizer, aventou a possibilidade de que poderiam ser apenas boatos, fofocas e inveja daquele povo que admirava o feliz casal.
Mas quando Antunes contou o que andavam dizendo sobre Tainá, Mário pensou que não suportaria tal golpe e desejou a morte ali mesmo caso fosse verdade o que acabava de ouvir!
Não podia ser! Antunes disse que havia a possibilidade enorme de Tainá ser uma garota de programa, uma mulher que se prostituía nas imediações do fórum João Mendes, no centro de São Paulo, em plena luz do dia.
- "Mas você tem certeza que é ela, Antunes"?
- Como disse, pode ser boato, mas, não custa tirar a dúvida"! – ponderou Antunes.

Mário não retornou ao trabalho depois do almoço. Entrou no carro e seguiu para a rua onde, supostamente, estaria sua esposa vendendo seu corpo aos engravatados que frequentavam o fórum.
Chegou ao local e olhou em todas as ruas das imediações em que sabia existir prostituição a qualquer hora do dia e da noite. Constatou que tinha algumas mulheres bonitas se prostituindo, mas, nada de ver sua esposa.
Sentiu um alívio momentâneo e julgou-se um maluco ciumento e ridículo. Iria falar uns bons desaforos a Antunes que teria inventado toda essa calúnia sobre sua esposa.
Porém, ao virar a esquina, Mário vê Tainá saindo de um carro abraçada a um homem desconhecido!
Observa de longe, atônito, a esposa amada se despedindo daquele bacana e retornando, em seguida, para a calçada em frente ao Banco do Brasil, seu ponto de prostituição onde, em breve, iria vender-se outras vezes no dia para outros clientes.
Após uns minutos, sem ser visto por ela, ele percebe a esposa saindo de seu ponto acompanhado por outro homem na direção de um daqueles hotéis específicos para a prática dessa arte milenar: a prostituição!
Mário entrou no seu carro e foi embora para casa a fim de esperar Tainá. Iria matá-la naquela noite mesmo, assim que ela chegasse do "serviço".
Em casa, abriu o segredo do cofre onde ele guardava seu revólver de calibre 38 e o carregou. Tudo estava arquitetado já em sua cabeça: - "Mato essa vadia e depois me mato"! – dizia.
Logo, Tainá chegou a casa cansada de "trabalhar". Possuía ainda em seu corpo o perfume com que de manhã havia saído e veio caminhando na direção de Mário para beijá-lo como fazia sempre.
Ele escondeu o revólver debaixo do travesseiro e, quando sentiu o perfume daquela ruiva encantadora, mesmo sendo uma meretriz, correspondeu ao seu beijo e mandou que ela tirasse toda a roupa imediatamente.
Tainá estranhou, sabia que o marido era louco de desejo por ela e que sempre costumava tomar um banho antes de se entregar para ele na cama.
Ele insistiu que a queria naquele momento, sem banho mesmo. Pensou consigo que alguém prestes a ser assassinado não precisa tomar banho, Caberia ao agente funerário banhar aquela que, em
breve, seria uma defunta cravejada por balas de revólver!
E quem sabe se o agente funerário não seria um necrófilo que iria provar daquela nudez mórbida e daquele corpo onde o sangue já não mais corria nas veias? Delirava o marido!
Tainá obedeceu; tirou toda sua roupa e abriu-se inteira e por completo ao marido dizendo: - "Vem, sou sua"!

"Que cínica"! - Pensou Mário.

Ele também tirou sua roupa e deitou-se sobre a esposa com seu corpo teso!Pôs a mão sob o travesseiro lentamente e encostou-a na arma. –"Agora eu a mato"! – pensou. Porém, decidiu usufruir um pouco mais daquela meretriz que não via mais como esposa.
Curiosamente, sentia que o ódio e a decepção por ter descoberto que a esposa era uma rameira lhe aumentava o prazer sexual.
Logo, chegou ao orgasmo intenso imaginando a mulher que ele tanto amava e desejava nos braços de outros homens. Era preciso, contudo, matá-la!
- "A honra se lava com sangue"! refletiu.
De repente, em questão de segundos, empunhou a arma apontando-a para o rosto de Tainá dizendo: -"Eu sei de tudo! Eu vi"!
Ela começou a chorar, humilhada por aquele homem a quem amava com sinceridade, sim, apesar de ser quem ela era, amava-o!
- "Atira em mim; eu mereço ser morta"! – pedia ao seu algoz.
Mário teve um pensamento que não sabe de onde e nem como veio e falou em voz alta: - "Não há diferença entre a meretriz e a mulher fiel! A prostituta é lasciva no corpo e a mulher fiel é lasciva na mente"!
Imediatamente, jogou o revólver para debaixo da cama e amou aquela sórdida Messalina como nunca, sentindo um prazer que até então desconhecia!
E todos os dias na hora do almoço, Mário saía do serviço com seu carro e ia "deliciar-se" ao ver sua esposa se prostituindo na esquina da João Mendes! Quando chegavam a casa, à noite, os dois se amavam de forma devassa alcançando, juntos, orgasmos que nunca imaginaram existir. Mário e Tainá já não eram mais um casal, eram cúmplices na arte de amar!

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