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quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

A Mulher do Próximo

                                            


Pontualmente, às 10 horas da manhã saía Jairo do elevador e caminhava pelo corredor para adentrar a seu escritório.

Cortez, porém, severo, e sisudo como a sua posição de empresário exigia, cumprimentou a secretária e os demais funcionários subalternos a ele que lá estavam para servi-lo desde as primeiras horas da manhã.


Jairo era um homem exemplar, um pai de família responsável ao extremo, marido zeloso e um bom filho também. Cuidava de todos e, antes mesmo de algum familiar lhe pedir alguma coisa como presente ou dinheiro, ele já se antecipava e dava um jeito de suprir aquela necessidade momentânea.
Pai amoroso que era, conservava na sua imensa mesa de executivo, feita em mármore Carrara, os retratos dos filhos e da mulher com quem era casado há quase 30 anos.

Tinha na parede de seu escritório um quadro com a foto de seu casamento emoldurada. Como estava linda Alice naquela noite! Dentro de um

vestido branco, de véu e grinalda, parecia ser ainda mais bela do que já era aquela jovem de pele clara como a neve, cabelos negros como a noite e lisos como a seda oriental!


-"Casou-se virgem, pura como uma santa"!- gabava-se Jairo a si mesmo enquanto degustava seu charuto cubano no fim do expediente.

Ele também só havia tido uma mulher em seus braços até hoje; Alice! Mas isso ele não gostava de admitir para ninguém, sequer para si mesmo!
Conheceram-se muito jovens, ambos de famílias tradicionais, abastadas, honradas... É claro que havia alguns deslizes e escândalos por parte de um ou outro familiar, mas, nada que o dinheiro e o poder não pudessem apagar.Quando a honra não advinha por mérito,vinha adquirida pelo vil metal!
Alice, até hoje, conserva o gosto pelas colônias raríssimas produzidas mundo afora. E foi com essa pele alva e perfumada que conquistou o coração do esposo.


Ele, um jovem tímido, não resistira quando Alice, certa vez, usava em seu pescoço e em seu colo aquela essência amadeirada e suave que só os bolsos da burguesia privilegiada poderiam adquirir.

Então, nessa mesma noite, ele a pedira em namoro após tirá-la para dançar no clube da elite em que ambos eram sócios.
O namoro iniciou-se com a aprovação de ambas as famílias e, após um curto noivado, aconteceu o enlace matrimonial entre Jairo e Alice.


A noite de núpcias foi numa daquelas suítes luxuosas num dos hotéis mais caros do mundo, em pleno frescor da primavera europeia. Ah, como se amaram naqueles dias de lua de mel! E não só naquele dia, pois até hoje se amam e se desejam tal a afinidade de gostos, posição social e grau de instrução.- "É um casal perfeito como nunca existiu antes"! comentavam os amigos e parentes dos cônjuges.
Jairo era austero demais e formal até com os amigos e, principalmente, com os funcionários. Não admitia liberdade e nem falta de respeito, principalmente quando lidava com mulheres. Ele tratava por senhora até suas funcionárias mais novas que estavam na casa dos 20 e poucos anos. "É assim que deve ser! Alice merece meu respeito"!- dizia para algum amigo que lhe reprovava seu pudor exacerbado ao lidar com as funcionárias jovens.

Numa sexta-feira, Jairo estava desesperado para terminar o expediente e ir para casa desfrutar de sua adorável família. Ansiava por levar Alice e o casal de filhos ao restaurante de sua preferência, do qual ele não abria mão de ir desde que se casou.
Nessa tarde, Jairo estava mais austero e sisudo do que nunca com todos os seus funcionários, inclusive com sua secretária, Dona Isabel.
Era dia 15, exatamente o dia em que o voluntário do orfanato da cidade vinha receber o donativo mensal que Jairo dava todo mês. Era um cheque generoso que, se o orfanato não recebesse mais nenhum donativo durante o resto do mês, já seria suficiente para prover todas as necessidades.


Aborrecido, ouve com desdém a secretária anunciar que o representante do orfanato estava lá para receber a doação do mês. "pois mande entrar, dona Isabel"!- respondeu exasperado para a secretária.
Jairo disse para si mesmo em voz baixa: - "Vou dispensar esse puxa-saco com esse maldito cheque e irei rapidamente para casa" – referindo-se ao voluntário do orfanato.
Então a porta de seu escritório abriu-se lentamente e, para sua surpresa, não estava entrando o conhecido voluntário do orfanato. "Vim no lugar do meu esposo. Ele está doente"! – disse a jovem moça.
Era uma galega bonita com um ar insolente que usava uma saia curtíssima que, com certeza absoluta, não havia sido confeccionada por grife alguma. Tinha nos pés uma sandália alta de cor viva, trazia os seios quase à mostra cobertos por uma blusinha vulgar e rota. Seus lábios estavam pintados por um batom brilhante, coisa que Jairo detestava. Por fim, exalava de seu corpo uma fragrância de desodorante barato, um cheiro fortíssimo, capaz de enjoar o mais delicado dos estômagos. Seu nome era Laura!



Por um instante, Jairo levantou-se alucinado da sua mesa de modo que fez Laura pensar que seria agredida por ele.


Mas não, aquele lorde estava provando uma sensação que jamais sentira em toda sua vida! Aquele perfume barato, aquela roupa vulgar e até mesmo aquela pequenas gotículas de suor que escorriam do rosto de Laura o atraíam profundamente! 

Seu corpo ficou hirto de excitação e ele desejou Laura no mais profundo de sua alma! Ela também ficou encantada pelos modos fidalgos e pela beleza de Jairo que não se conteve de paixão!


Beijaram-se e se abraçaram sem pronunciarem uma palavra sequer, numa volúpia animal! "Aqui não! Espere-me no elevador"! – sussurrou Jairo no ouvido da jovem.



Ela obedeceu e Jairo, mais que depressa,despediu-se de todos no escritório indo encontrar Laura, sem ninguém perceber.


Logo, entraram no carro e, quando ele viu uma aliança dourada de casamento no anelar da pobre moça, ficou ainda mais tarado por ela.
Após dirigir por algumas quadras, Jairo estacionou o carro numa rua deserta da periferia da cidade conhecida por abrigar prostíbulos e hotéis de baixíssimo nível. O próprio Jairo já não se reconhecia e estava impressionado com seu comportamento animal que contrariava sua criação, sua educação e seus princípios.
Esqueceu-se completamente da família enquanto saciava seu louco desejo carnal no corpo daquela jovem, sobretudo entre suas coxas a ponto de não retornar para casa naquela noite e em nenhum outro dia de sua vida!

Jairo vendeu na semana seguinte mesmo todos os seus bens e negócios, depositou metade do dinheiro de tudo na conta bancária de sua esposa Alice e fugiu para longe com aquela jovem ignorante, devassa e vulgar sem dar maiores explicações a ninguém.

Talvez o que mais o tenha atraído em Laura tenha sido o contraste com sua esposa Alice, aquela que sempre fora somente mulher dele, a quem ele tirara a virgindade para desposá-la. Já Laura, ao contrário de Alice, era mais encantadora por, justamente, ser a "Mulher do Próximo".

Enquanto isso, a esposa abandonada compreendia e sofria em silêncio o que de fato aconteceu com seu ex-marido ao achar, nas gavetas do escritório, um papel dobrado e amassado com uns versos escritos por ele mesmo e à mão que revelavam há muito o recôndito desejo de Jairo:

                                                          "Amor Profano"



Desejo a mais profana das paixões,/Sugar os seios hirtos, sussurrar palavras cálidas ao pé do ouvido,



lamber a pele alva e suave que te reveste!

Desejo aspirar tua essência mágica que exala de teu delicioso corpo frêmito de paixão.
Desejo o toque áspero de minhas rudes mãos em tua cintura e em teu quadril, curvando-te à altura de meu sexo para sentir de uma forma única e avassaladora o teu calor!
Desejo deitar o meu sobre o teu corpo, onde o suor já não se contém e derrete toda sua resistência ao prazer na cama alheia, no quarto alheio...
Quero dominar-te de uma forma que teus lábios não consigam exprimir outras palavras que não sejam meros suspiros monossilábicos de "AIS" vindo de teu intenso e bruto orgasmo!
Desejo te sentir profana ante minha expectante excitação, implorando por meu gozo úmido e,ao mesmo tempo, quente em teu ventre,mulher que não és minha!
E quando ambos, saciados estivermos, eu quero vestir-te e sair fugindo de teus braços feito louco a gritar: -"Agora és minha;és minha"!
E eu também me tornei por ti profano,porque do veneno de teus lábios provei./Ah,mulher profana,adúltera e perdida!


- Agora és minha; és minha"!


Alice leu os versos, derrubou uma solitária lágrima e guardou novamente o papel na gaveta.

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