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sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

Na Antessala do céu


                                       "Na Antessala do céu"


     Badalava o sino da Igreja Matriz anunciando o meio-dia, a hora sagrada para os cristãos católicos de todo o mundo. E o responsável por esse importantíssimo serviço espiritual era o coroinha da Paróquia, Sávio.

     Era um rapaz que contava cerca de 20 anos de idade, esguio e regrado em todas as áreas de sua vida. Muito estimado pelos fiéis e pelo padre, era muito devoto daqueles santos esculpidos em ouro que adornavam os altares da bela igreja edificada no mais perfeito estilo gótico.
     Seus pais sentiam-se incomodados por essa dedicação total e quase em tempo integral de Sávio à paróquia e chegavam, inclusive, a duvidar de sua masculinidade. Ora, um rapaz de sua idade deveria ter uma vida social, passear com os amigos, fazer uma farra de vez em quando e, principalmente, namorar garotas da sua idade.
 

     O pai, um militar aposentado, guardava para si a desconfiança sobre a preferência sexual do filho. Não admitia nem sonhando a possibilidade de ter um filho pederasta, termo usado na época para definir o indivíduo homossexual.

     Em outro ponto da cidade, Hiraldo já se encontrava na cozinha de sua bela casa para almoçar com a dedicada e amorosa esposa Adriana. Esse casal fazia parte do rol dos mais devotos paroquianos da igreja de padre Hélio e seu fiel coroinha.
 

     Ela (Adriana), uma dama de modos altivos, severa nos hábitos e nos costumes, uma figura irrepreensível do ponto de vista cristão. Exigia, a matrona católica, que seu marido fizesse o sinal da cruz com a mão direita toda fez que o sino da igreja tocasse.Ou seja, ao meio-dia e às 18 horas.
     Incomodado com o ritual, mesmo sendo religioso, Hiraldo preferia não contrariar a esposa e logo se benzia com a mão direita como desejava Adriana. - "Que mal pode haver nesse desejo de minha esposa"? – interiorizava Hiraldo.
     E assim sucediam os dias em que marido e mulher cotidianamente viviam sob o amor e a benção de Cristo, frase dita por padre Hélio no dia do casamento dos dois e que prevalecia na mente daquele casal paladino da moral cristã e dos bons costumes.
     Não tinha filho o casal, sem nenhuma explicação aparente, talvez porque seus momentos

íntimos fossem mínimos em todos esses anos de convivência.


     Tentava por vezes, Hiraldo, quebrar o protocolo dessa relação tão casta que tinha com a esposa. Tudo entre eles era muito regrado pelo Altíssimo conforme a orientação do santo sacerdote em seus intermináveis sermões na missa de domingo!

Certa vez, Hiraldo, cansado de tanto trabalhar naquele cartório onde lidava com aqueles trâmites burocráticos que nada acrescentavam a sua vida, resolveu surpreender a esposa chegando mais cedo em casa com um presente insinuante para tentar melhorar a vida íntima deles. Era uma lingerie ousada na cor vermelha!


     Ao abrir o presente, Adriana ficou indignada com o marido, pois ela não admitia que uma mulher de família usasse uma calcinha tão minúscula quanto essa que o marido lhe dava agora e ainda mais na cor que,segundo ela, representava o pecado carnal. –"Ora, está maluco, Hiraldo? Que juízo faz de mim ao me trazer esse tipo de presente"? – humilhava o marido.
Hiraldo ficou constrangido com a recusa de sua esposa em receber a tal lingerie vermelha, mas, logo, sentiu-se um marido privilegiado em ter uma 

 

esposa honesta que jamais o trairia, pois era recatada em tudo. Era uma benção ter uma mulher que dedicava sua vida a devotar os santos, a praticar boas ações e a interceder por meio de novenas e promessas pelas almas pecadoras. – "Que privilégio desposar uma esposa assim"- gabava-se junto aos amigos de cartório.
     Certo dia, pontualmente às 18 horas, Hiraldo chegou a casa e não encontrou a esposa Adriana. Ele estava sem relógio para consultar as horas, mas, ao ouvir o sino que o coroinha badalava,concluiu: - "É a hora da ave-maria"!
     Imaginou, então, que a esposa estivesse na igreja em suas infinitas preces aos santos e ao "Poderoso Chefão". Quis surpreendê-la no templo sagrado e comprou um lindo ramalhete de flores do campo de diversas cores. Todas as cores, menos uma: vermelha. A cor que representa o pecado segundo Adriana.
     Quando entrou pela grande porta do templo, estranhou o silêncio e a ausência das beatas,mas,resolveu continuar caminhando até à sacristia, pois julgou que a esposa estaria lá encomendando uma missa em memória das almas pecadoras que necessitavam da salvação eterna.

Sentiu-se envergonhado por caminhar entre os santos com aquele ramalhete de flores, o presente para sua amada.Após uma breve reflexão, concluiu que não era pecado demonstrar o amor que ele sentia por sua esposa e achou que até mesmo padre Hélio iria aprovar seu gesto.
 


     Ansioso, Hiraldo estava junto da porta da sacristia e tudo permanecia no mais absoluto silêncio, próprio da "Casa de Deus".
    Resolveu adentrar ao recinto tão sacro, pode-se dizer que a sacristia é a antessala do céu. Orgulhou-se, por um segundo, dessa metáfora que criara naquele momento de inspiração e repetiu em voz alta: "A sacristia é a antessala do céu"!
 

     Mas, para sua surpresa, foi nesse sacro lugar de paredes adornadas pela arte barroca que Hiraldo, atônito e incrédulo, viu sua amada e caridosa esposa, Adriana, sentada no colo do coroinha desnudo, sim esse que todos julgavam ser homossexual!
 
 

     Ela retorcia-se freneticamente cavalgando sobre o rapaz com uma minúscula lingerie vermelha que tanto rechaçava e condenava por estar relacionada ao mais abjeto dos pecados: o pecado carnal!

Hiraldo, diante dessa cena, só teve tempo de interromper aquele coito perverso e pecaminoso de sua religiosa esposa com o dedicado coroinha da igreja gritando desesperadamente e, logo, tombou duro no chão da sacristia vítima de um ataque fulminante do coração.
     Adriana, assustada, saiu do colo do coroinha, aproximou se do corpo inerte do marido e cerrou com suas delicadas mãos os olhos de Hiraldo. Depois, pegou o ramalhete de flores do campo que o marido lhe trouxera e colocou sobre as mãos cruzadas no peito do morto.
 

     Fez o sinal da cruz ante o cadáver e, enquanto se vestia, teve um pensamento que consolou seu coração e, ao mesmo tempo, fez com que sentisse o perdão de seu pecado. Afinal, por morrer na antessala do céu, a alma do marido deve ter sido imediatamente recebida pelo Altíssimo.

     E a poucos metros dali, o coroinha, ainda nu, expiava seu pecado badalando o sino da igreja em respeito ao morto que naquele chão estava!
 

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