Crônica:“Van Gogh, eu e as grossas balizas das estudantes”
*João Ribeiro Neto
Quando me mudei para uma certa cidadezinha do interior
de São Paulo, já sendo criador de cavalos no sítio que ainda tenho lá, resolvi
participar do desfile de cavaleiros realizado pala prefeitura local em
comemoração ao centenário de fundação do tal município.
Selecionei o melhor de meus cavalos, o Van Gogh, um
mangalarga marchador (tem foto dele no meu site) de pelos quase brancos e “vestido a caráter”. Passei as boleteiras
(uma espécie de faixa em suas patas com uma cor vibrante para proteção e
enfeite que se usa nos cavalos), coloquei um baixeiro bonito (espécie de manta
que se põe debaixo da sela) enfim, o melhor arreio que eu possuía.
Van Gogh ficou lindo (e ainda possuía as
duas orelhas intactas ao contrário do seu homônimo); virou o centro das
atenções e eu também não fiquei atrás: usei a vestimenta digna a um cavaleiro
para a não menos digna ocasião.
Até aí tudo bem, mas como
eu era novo na cidade não sabia que aconteceria num determinado dia o desfile
cívico que contaria com a participação dos estudantes municipais, das fanfarras
das escolas e das instituições de classe do município. Ficando somente para o
segundo dia o desfile dos cavaleiros.
Assim, por conta do meu
desconhecimento, montei o Van Gogh e fui até o local da concentração do desfile.
Chegando no meio da avenida
principal, fiquei surpreso ao me deparar na concentração com uma multidão de
pessoas e fanfarras estridentes. Estava claro, errei o dia do desfile de
cavaleiros!
Com o acúmulo de pessoas e
a imensidão de sons que se ouvia do público e dos que desfilavam, Van Gogh, meu
cavalo, assustou-se e começou a pular, a empinar e a relinchar no meio da
avenida.
E eu lá em cima dele sem
saber o que fazer: “tentar controlar o cavalo ou olhar para as pernas
grossas em minissaias das balizas, aquelas mocinhas que vão à frente das
fanfarras fazendo acrobacias e malabarismos”.
Claro que, como qualquer
homem faria, escolhi admirar as pernas grossas das mocinhas, enquanto eu me
equilibrava na sela!
Passados alguns minutos,
consegui controlar o cavalo, mesmo com o olhar voltado para as balizas grossas
das balizas; literalmente falando!
Os guardas que organizavam
o trânsito indicaram-me um atalho para que eu pudesse me retirar do desfile com
segurança, pois o cavalo estava desorientado mesmo!
Alguns podem até estar
achando que esse fato não é verídico, pois eu garanto que é, aconteceu comigo
há uns cinco anos atrás, mais ou menos. Não tenho mais o cavalo Van Gogh, mas
ainda não me esqueci daquela visão inebriante das balizas grossas e bem
torneadas daquele desfile, afinal eu tinha uma visão privilegiada no alto do
cavalo, visão que se eu contasse seria fatalmente censurado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.