Parafraseando o escritor Mário de Andrade: "Tanto andam agora preocupados em definir o conto que não sei bem se o que vou contar é conto ou não".
Fulano nunca bebeu, nunca fumou, nunca se apaixonou, nunca mudou...
Sempre foi incapaz de protagonizar grandes tragedias, de transmitir algum sentimento carinhoso ou rancoroso.
Leu os livros precários, viu os filmes banais, ouviu as músicas da moda...
Para fulano era impossível escolher algo que envolvesse tomar uma decisão e, por isso, aceitava passivamente sugestões de pastas de dente e de candidatos a cargos políticos.
Jamais levantou a voz ou os olhos. Gestos contundentes, não os fez. Usou óculos redondinhos a vida inteira e fugiu do uso das gravatas.
Fulano não sonhou, não ousou, não se exasperou e nem se decepcionou. Comemorou Natal com champanha (palavra brasileira) popular, vestiu roupa branca no ano novo, acendeu velas na praia e cultivou tolas supertições.
Conservou, enfim, sua fleuma até na hora de morrer. E a morte lhe foi também fria, insípida, sem dor, sem saudade, comum, sem sofrer tal como fulano.
Só teve uma capacidade fulano: a de atravessar a vida desde seu intróito até sua peroração imperceptivelmente, não deixando amores, nem paixões, nem saudade e nem qualquer sensação de vitória ou derrota!
"A vida é uma peça de teatro que não permite ensaios. Por isso, cante, chore, dance, ria e viva intensamente, antes que a cortina se feche e a peça termine sem aplausos". (Charles Chaplin)
* crônica que integra o livro "A Vida é Bela - Para Quem?"
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