Sempre quando as pessoas
descobrem que sou poeta noto um ar estranho em suas faces. Parece que o espanto
domina seus lábios e a palavra poeta sai soletrada: po-e-ta.
Não
compreendo o porquê de tanta admiração ou espanto causado só porque se está
diante de alguém que gosta de escrever versos em nosso rotineiro cotidiano.
Talvez
porque o poeta, mesmo não tendo um valor profissional ou econômico na sociedade
alienada, ocupa o lugar no imaginário das pessoas por ser um alguém que tem
ousadia para sonhar.
Como
é difícil sonhar estando no meio da neurose social onde os problemas
financeiros nos ferem, aprisionam e até matam! O mundo é caótico, confuso, mas
a poesia não; ela é sublime, tenra...
Porém
na mente do poeta coexistem o caos da realidade imperfeita com a perfeição do
ideal. Daí surge a poesia!
Enquanto
poeta, sempre sonhei amar e ser amado mais do que na vida real. Numa manhã de
sol desponta o verso infantil ao imaginar a doce amada, no crepúsculo a
realidade começa a bater na aorta através do verso sutil e, à noite, uma dor de
perda assombra o pobre poeta!
Poetar! Transformar dores em
esperanças, viver paixões imortais que por sua vez morrem sem mais nem menos
diversas vezes. Que paradoxo!
Trocas
de confidências e olhares voltados à própria alma, declarações banais de
felicidade, gritos de lamúria... “Ais” de padecer inexistente...
Ser
poeta! Sorrir quando se quer chorar; sonhar
quando o que se deve fazer é viver; transformar
dores em versos quando se deve fazer exatamente isso. Transformar
dores em versos!
E
naquela calçada caminha agora um poeta, leva um semblante grave, deve estar
pensando em como é difícil vender seus livros, se é que já os escreveu um dia!
Olha
outro poeta ali! Esse vai sorrindo ao atravessar a rua, talvez vá encontrar a
sua amada.
Ah,
na praça tem mais um poeta declamando versos doloridos, mas cada estrofe é um
convite para refletir sobre a vida.
É
bom que existam poetas pelo mundo afora, mas como é difícil ser um! A sociedade
é leviana, mas ainda assim vale a pena!
Fernando Pessoa, o maior
dos poetas, há muito já nos disse: “Tudo vale a pena se a alma não é pequena”.
* Crônica que integra o livro "Existe vida após o casamento?"
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